terça-feira, 25 de junho de 2013

O gigante nunca dormiu, apenas cresceu.

Fotografia de uma manifestação contra o aumento dos bondes, ocorrida em São Paulo em 1958. Fonte: https://pt-br.facebook.com/pages/PSOL-Niter%C3%B3i/226745290686260

Não é de hoje que a multidão ganha às ruas para lutar pelos seus direitos.  Aumento do custo de vida, luta pelos direitos civis, desacordos entre a política de Estado e o que a população espera dele. Vasculhando a internet em busca de notícias sobre os protestos que varreram o país nas últimas semanas, deparei-me com esta fotografia. Ela me fez lembrar uma pesquisa que realizei há alguns anos, sobre protestos que ocorreram no Brasil durante o governo Sarney.  Um deles em particular me chamou a atenção.  Ele aconteceu em Brasília, em 28/11/1986, logo após o anúncio do Plano Cruzado II.  Assim como ocorrido nos protestos nas últimas semanas na capital federal, os manifestantes também ocuparam a Esplanada dos Ministérios e “a ira popular” – como comumente era referenciada nos jornais – também acabou com cenas de violência, com carros incendiados, alguns feridos e inúmeros presos.
 Vinte e sete anos após este acontecimento, milhares de pessoas em diversas cidades brasileiras foram às ruas.  À frente dos protestos não mais a CUT ou o PT – que juntamente com outros partidos foram profundamente rechaçados nestas últimas manifestações, mas os movimentos sociais – horizontais e apartidários, mas não antipartidários (que fique claro). Da mesma forma que no passado, a alta do custo de vida - que estivera no cerne das manifestações naqueles recessivos anos 80, ainda são a tônica das manifestações de hoje, que assomadas às bandeiras das mais diversas, mas em especial: repúdio à corrupção, mais investimentos na saúde e educação e principalmente, mais participação nas decisões políticas do país que ainda persiste em manter suas instituições obstaculizadas e absortas em um arcaísmo que não mais os representa.  
Desde 1986 (e certamente bem antes disso), os princípios da democracia são colocados em pauta nestas manifestações. “A democracia é assim mesmo”, afirmava Eliane Cantanhede em sua coluna no JB em 1986, ao comentar os protestos. Nas manifestações de 2013, “a democracia” é reverenciada pela imprensa e pela classe política que categoricamente – e estrategicamente - declara o seu apoio aos protestos e por vezes até, acham-nos “bonitos”.
Bem, que os discursos sobre a “beleza da democracia” estão bem distantes da prática não é novidade para ninguém, mas o que assistimos nas últimas semanas no Rio de Janeiro beira a aberração: como falar em democracia diante de uma polícia treinada para atirar a esmo (vide não só manifestações no centro do Rio na última quinta-feira, mas a “ocupação” da polícia ocorrida esta noite na favela da Maré)? Como associar os princípios de um regime democrático de direito com uma polícia que prende para “averiguações” e que ainda afirma estar agindo “com inteligência”?
A falência das instituições políticas da democracia dita representativa é patente, mas o seu mal é remediável .  A população exige representação e os canais para isso devem incluir a sua participação direta. Um plesbicito para realizar uma reforma política no país é bem vindo e ela não se resume apenas em uma dúzia de palavras para arrefecer os ânimos. A preparação para tal deve começar hoje e agora; nas ruas e nas escolas, nas cidades, nos bairros e na sala de casa.  E não se enganem Josés Agripinos da vida, esta não é apenas uma discussão para congressistas ou parlamentares, ela também pertence – e acima de tudo pertence – a  todos nós.