Não é de hoje que a multidão
ganha às ruas para lutar pelos seus direitos.
Aumento do custo de vida, luta pelos direitos civis, desacordos entre a
política de Estado e o que a população espera dele. Vasculhando a internet em
busca de notícias sobre os protestos que varreram o país nas últimas semanas,
deparei-me com esta fotografia. Ela me fez lembrar uma pesquisa que realizei há
alguns anos, sobre protestos que ocorreram no Brasil durante o governo
Sarney. Um deles em particular me chamou
a atenção. Ele aconteceu em Brasília, em
28/11/1986, logo após o anúncio do Plano Cruzado II. Assim como ocorrido nos protestos nas últimas
semanas na capital federal, os manifestantes também ocuparam a Esplanada dos
Ministérios e “a ira popular” – como comumente era referenciada nos jornais –
também acabou com cenas de violência, com carros incendiados, alguns feridos e
inúmeros presos.
Desde 1986 (e certamente bem antes
disso), os princípios da democracia são colocados em pauta nestas
manifestações. “A democracia é assim mesmo”, afirmava Eliane Cantanhede em sua
coluna no JB em 1986, ao comentar os protestos. Nas manifestações de 2013, “a
democracia” é reverenciada pela imprensa e pela classe política que categoricamente
– e estrategicamente - declara o seu apoio aos protestos e por vezes até,
acham-nos “bonitos”.
Bem, que os discursos sobre a “beleza da democracia”
estão bem distantes da prática não é novidade para ninguém, mas o que
assistimos nas últimas semanas no Rio de Janeiro beira a aberração: como falar
em democracia diante de uma polícia treinada para atirar a esmo (vide não só
manifestações no centro do Rio na última quinta-feira, mas a “ocupação” da
polícia ocorrida esta noite na favela da Maré)? Como associar os princípios de
um regime democrático de direito com uma polícia que prende para “averiguações”
e que ainda afirma estar agindo “com inteligência”?
A falência das instituições
políticas da democracia dita representativa é patente, mas o seu mal é
remediável . A população exige
representação e os canais para isso devem incluir a sua participação direta. Um
plesbicito para realizar uma reforma política no país é bem vindo e ela não se
resume apenas em uma dúzia de palavras para arrefecer os ânimos. A preparação
para tal deve começar hoje e agora; nas ruas e nas escolas, nas cidades, nos
bairros e na sala de casa. E não se
enganem Josés Agripinos da vida, esta não é apenas uma discussão para
congressistas ou parlamentares, ela também pertence – e acima de tudo pertence –
a todos nós.